domingo, 29 de agosto de 2010


Visitei ontem Novo Redondo, Hoje Sumbe, Kuanza Sul.
A viagem por estrada desde Luanda faz-se bem, a estrada é boa o transito não é muito, a vida por lá é calma.
Durante o percurso fizemos alguns desvios para conhecer alguns sítios que tínhamos ouvido falar e que me surpreenderam pela paz e qualidade de vida que se tem por lá. Para quem até agora conheceu apenas Luanda e arredores, digamos que ontem viajamos até ao paraíso :)

Vou colocar algumas imagens que falam por si.

Sumbe - Kuanza Sul - Antes da Independencia Novo Redondo

Mapa de Kwanza-sul
Mapa de Kwanza-sul

CAPITAL: SUMBE

Municípios

Porto Amboim, Sumbe, Seles, Conda, Amboim, Quilenda, Libolo, Mussende, Quibala, Ebo, Wako-Kungo, Cassongue, Cela. 12 Municípios e 36 comunas.

Clima: Tropical seco e de Altitude

Superfície: 58 698 Km2, (4,7% do território nacional).

População: 2 294 064 Habitantes, densidade de 39 hab/km2.

Principal Produção

Palmeira Dendém, Algodão, Sisal, Café Arábica e Robusta, Bananas, Ananas, Milho, Arroz, Amendoim, Batata Doce, Citrinos, Ervilha, Feijão, Feijão Cutelinho, Feijão Macunde, gergelim, Plamar, Girassol, Goiabeira, Mamoeiro, Mandioca, Mangueira, Maracujá, Massambala, Plantas Aromáticas, Produtos Hortícolas, Rícino, Soja, Tabaco, Eucalipto, Pinheiro. Fomenta-se a cultura do algodão, do girassol e da soja.

Minérios

Quartzo, Ferro, Mica, Gesso, Caulino, Asfalto, Calcário-Dolomite, Cobre e Cianite, Diamantes, Petróleo, Mica e Níquel. Águas gaseificadas e águas subterrâneas (termais).

Pecuária: Bonivicultura de Carne, Bonivicultura Leiteira, Caprinos.

Indústria

Materiais de Construção, Têxtil, Confecções, Couro e Calçado, Alimentar, bebidas e Tabaco, outros: pesca;

A empresa de maior expressão é a BEBA que se dedica à produção de bebidas espirituosas, sumos, enchimento de água de esa e torrefação de café. Existe uma moagueira e está sendo concluída uma fábrica de rações. Brve uma linha de enchimento de refrigerantes. está em construção uma fábrica de álcool. Metriais de construção, existe uma britadeira (do INEA), algumas serrações e carpintarias, umas fábricas de cal a trabalharem em moldes artesanais e uma fábrica de mosaicos, em curso uma instalação de cerâmica. Visível a actividade no sector de construção civil, hoje aumentada a atuacção de empreiteiras e melhorias nos vínculos empregatícios.

Kwanza-sul
Kwanza-sul

Transporte aéreo é assegurado por três empresas: Angola Air Services(com sede no Sumbe), SAL e INTERTRANSIT. Não existe nenhuma empresa de transporte marítimo. O transporte rodoviário é garantido por 62 veículos pesados de passageiros, 221 pesados de mercadorias, 200 ligeiros de passageiros e 184 ligeiros de mercadorias.

Comércio, com a livre circulação de pessoas e bens, regista-se revitalização geral da rede comercial, incluindo a rural que durante muito tempo esteve desarticulada e dependente de vendedores ambulantes.

Aprovíncia do Kwanza-Sul possui cerca de 178 km lineares de orla marítima, é rica em recursos piscatórios, tanto pelágicos como demersais, sendo igualmente conhecida por um potencial natural de crustáceos, com particular destaque para a lagosta, caranguejo, camarão e gamba. Salienta-se ainda que os rios Longa, Cuvo ou Queve, Cussoi (afluente do Cuvo) e Nhia são ricos em "cacusso e bagre". Por sua vez, o Longa e o Cuvo é rico em "ostras" de elevada qualidade comercial.

Kwanza-sul
Kwanza-sul

Ensino pré universitário presente em 6 municípios, instalações próprias no Sumbe e Porto Amboim.

Estradas e pontes

A Província é atravessada por dois eixos principais de estradas asfaltadas, um na parte litoral e outro na parte central. Este dois eixos estão ligados por uma transversal, numa extensão de 847 km. Ainda possui uma rede de estradas terraplanadas principais numa extensão de 2.044 km. A estrada entre a Quibala e Mussende aguardam restaurações.

Caminho de ferro

Com 123 km de linha e uma bitola de 0,60m, ligava a cidade portuária de Porto Amboim à Gabela. Além de servir como transporte de passageiros, é importante para o escoamentop de mercadorias provenientes das potenciais zonas agrícolas e cafeícolas do interior da região, faz parte dos projetos de restaurações.

Portos e aeroportos

Em Porto Amboim duas pontes cais, uma pesqueira, pertence à empresa PESKWANZA que presta serviços a outros, e outra comercial. Além destas existe uma ponte pesqueira a concluir , no Sumbe-Kicombo. As cidades de Sumbe, Porto Amboim e Waku Kungo possuem aeródromos. Todos os outros municípios têm pistas de aviação.

Correios e Telecomunicações

Registaram-se melhorias nas comunicações com a instalação do sistema V-SAT da Internet, bem como do sistema telefónico de Discagem Directa Internacional que funciona desde a ocasião da observação do Eclipse do Sol. Na mesma altura, os serviços do INAMET beneficiaram de novos equipamentos.

Turismo

Existem 6 entidades promotoras de espetáculos e divertimentos públicos com 66 centros de diversão pública, sendo 8 centros recreativos e culturais, 3 boites, 6 discotecas, 3 dancings, 8 cinemas, 5 salões de farra e 33 vídeo-games. Possui 14 bibliotecas com freqüência de mais de 1000 leitores por ano, 37 artístas plásticos, 9 grupos musicais,7 grupos teatrais, 20 de danças tradicionais e 37 de dança moderna, 16 grupos corais e 137 músicos.

A Cachoeiras da Binga (cascata ou quedas de água no rio Cuvo) na Conda; a foz do Rio Queve na Chicucula (uma atracção para a pesca desportiva); as pinturas rupestres no Quicombo; a Tokota (águas térmicas-sauna) no Nhime - Conda; a foz do rio Longa (fendas ou cascatas nos morros) em Hogiwa - Porto amboim; e a Lagoa Chinga/Bumba na Kilenda; além das lindas Praias, são potencialidades turísticas.

Sistema financeiro e bancário

Conta com 4 agências, sendo 2 no Sumbe (BCI e BFE) e 2 em Porto Amboim (BPC e BAI). Excepto o BCI, as outras agências dentro das circunstâncias têm financiado os projetos que lhês tem sido remetido pelos promotores, intermediando igualmente os créditos do FDES. O SDEKS (Sociedade de Desenvolvimento Económico do Kwanza Sul) vem concedendo créditos para a agricultura, pecuária, indústria, comércio rural, transportes e micro-créditos às mulheres rurais e às camadas desfavorecidas. O FDCA - Fundo de Desenvolvimento do Café - financia alguns instrumentos de trabalho aos pequenos produtores. O FADEPA - Fundo de Apoio ao Desenvolvimento da Pesca Artesanal, continua desempenhando um papel importante. A INAPEM, para além das acções de formação e comercialização dos perfis de oportunidades de negócios, liderou o Programa Novo Horizonte. Ainda existe uma delegação da ENZA.

Dentro dos programas se prevê o ingresso de 17.280 alunos nos diversos níveis de ensino, apetrechamento de infra-estruturas irão garantir a melhoria de assistências sanitárias e resposta a demanda hospitalar, abastecimentos de água e energia, reabilitação de 308 km de troços de estradas terraplanadas intemunicipais e 516 km de estradas que ligam as sedes municipais às comunas, bem como as respectivas pontes e segue nos sectores de habitação e agricultura.

Distâncias em km a partir do Sumbe: Luanda 492 Benguela 208;

Indicativo telefónico: 036.

Kwanza Sul

Sumbe

Estendendo-se por 58.698km2, tem o Atlântico a oeste e 6 províncias à sua volta. A sua capital, Sumbe, situa-se a 492km a sul de Luanda. O clima é tropical, seco no litoral e húmido no interior.

Extracção de Diamantes

Ajudada pela Natureza com um solo de grande fertilidade e facilitada por uma localização favorável, entre Luanda e Benguela e por considerável extensão de costa atlântica e boa rede hidrográfica, é uma das províncias com maior actividade agrícola.

Grande produtor de milho e mandioca, destaca-se também nas produções de: café arábica e robusta, algodão, amendoim, batata e batata-doce, abacate, ananás, ervilhas, citrinos, feijão, girassol, goiaba, maracujá, mangueira, massambala, palmeira de dendém, soja, tabaco, sisal, hortícolas, pinheiro e eucalipto. As criações de gado bovino e suíno desenvolvem-se, sobretudo, na zona de Amboim e a de ovinos é mais notória no Sumbe.

A pesca é uma actividade convenientemente explorada nesta Província, com importante infra-estrutura em Porto Amboim. O comércio de crustáceos é importante. No capítulo dos recursos minerais, saliência para o gesso, a mica e a cianite, o cobre e calcário (Sumbe) e o quartzo e asfalto (Gabela). A costa têm boas praias e a zona das Cachoeiras oferece cascatas de grande beleza.

Fonte: www.consuladodeangola.org

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Primeiras Impressões

Cheguei a Luanda dia 31 de Julho, passaram apenas três dias...
Depois de muito ler sobre o que poderia encontrar e com alguns receios, vou descobrindo o país que amplamente se descreve nos vários blogues que fui lendo, mas também um país de gente simpática, adaptada às carências que os rodeiam, um povo bonito, que apenas pode dar o que tem.
Em franco crescimento, pelo meio de estradas poeirentas que dizem tornarem-se um caos depois de chover os prédios sobem em altura faltando as infra-estruturas. Toda esta construção, alguma sem qualquer critério faz-me lembrar um pouco o nosso Algarve há uns anos atrás, como sempre, as potencialidades criam os apetites desenfreados e provocam os erros.
A minha forma de estar e a capacidade de adaptação que tenho ajuda-me a compreender este povo. Também eu já passei por muitas fases complicadas, sabendo dar o valor ao que já se conseguiu fazer por cá.
As crianças são muitas, cheias de trancinhas, que o tempo de ócio permite fazer sem grande stress, olho para elas e vejo-as felizes, muito unidas, os mais velhitos tomam conta dos mais pequenos, têm algum cuidado ao abordar-nos para pedir, e normalmente oferecem ajuda para ganhar cem paus como eles dizem, ou seja 100 Kuanzas (+/- 1 Dollar), para carregar o saco das compras ou ir levar os sacos do lixo ao contentor que aqui não abunda.
O acolhimento dos mais velhos é cordial, respeitoso e afável, pelo menos é isso o que tenho sentido. A forma como advertem as crianças para respeitar os mais velhos, para não o mexer nas coisas do super mercado ou para pedir desculpa quando simplesmente chocam com alguém, seria uma lição a dar a muitos dos papás em Portugal.
Sobre os organismos públicos, muita coisa tem sido escrita. Também eu já presenciei a famosa gasosa, numa espera propositada ao carro do estrangeiro. Dizem que está a mudar... Espero sinceramente que mude depressa.
Sobre o transito… é mesmo verdade, é caótico! Não sei mesmo se algum dia vou arriscar conduzir por cá, depois quase não há nomes de ruas, identificando-se os sítios por “ao pé da igreja”, do restaurante, ou de outro sítio qualquer que seja conhecido.
Vim com o tempo fresquinho, à noite está mesmo frio, dizem que há muitos anos não havia temperaturas assim, são as mudanças climatéricas que também se fazem notar aqui.
Apenas hoje dia 5 vou tentar publicar, porque apenas hoje consegui paciência para abrir a Net ... pois…paciência, muita paciência para quase tudo o que se faz por cá.
Ontem já não consegui publicar, a ver se hoje dia 6 isto se aguenta ;)

domingo, 11 de abril de 2010

A Arte da Capulana



Sempre fui uma apaixonada por cores, formas ou desenhos, tenham eles a aplicação que tiverem, vou ao pormenor do toque do garfo com que como,gosto de beber café em chávenas de porcelana fina, amo a natureza e tudo o que ela nos oferece de tão belo e admiro quem a respeita criando e recriando com sentido de estética e enquadramento natural.

Gosto por isso das capulanas, que nos contam histórias e dão cor a países onde nem sempre a vida sorri a quem neles habita, mas que tem uma força unica para a arte, e se abrem a uma policromia única.

Depois de várias pesquisas sobre os costumes e este tipo de arte em tecido, deixo aqui o que achei de mais relevante contar sobre as Kapulanas, Capulanas, Kangas, ou pagnes, dependendo do local de África onde estejam.

Da rudeza das origens a criatividade pode fazer delas adereços de decoração ou moda enquadráveis nos meios mais exigentes e sofisticados.


"De norte a sul de Moçambique não há mulher que não use a capulana. Usa-a para se vestir, para limpar e embrulhar as crianças, para as amarrar às costas, usa-a como toalha e como cortina. Ou
na mudança de casa e em viagem, como embrulho da trouxa.


A capulana não é para uso exclusivo das camponesas, como se possa pensar. As mulheres urbanas, que em geral se vestem à maneira ocidental, usam-na invariavelmente como traje de trazer por casa ou em certas cerimónias familiares.
Outras mulheres, em África, usam o mesmo tipo de pano rectangular de algodão e, ultimamente, com mistura de fibras sintéticas, largos motivos estampados incluindo caras de “presidentes”, e sobretudo com cores vibrantes.

Mulheres e raparigas cobertas com estes panos coloridos, dão vida e cor às estradas de terra que cortam a paisagem monótona da savana ou às ruas e mercados das ruidosas e desordenadas cidades africanas.

São variadíssimas as formas de as usar, como se pode ver por estas imagens.


No improviso, um fato de banho
Um lindo conjunto de festa com apenas dois panos.
Na simplicidade de atar com charme.


Noutros países estes panos podem ter outros nomes. No Quénia chama-se “kanga”. Na África Ocidental, no Congo ou no Senegal, chamam-lhe “pagne”. Muitas línguas moçambicanas têm nomes vernáculos para estes rectângulos de tecido. Mas “capulana” é o nome mais usado, desde norte a sul, de leste a oeste em Moçambique. Hoje o nome faz parte do léxico da língua portuguesa mas não é uma palavra de idêntica origem.

Uma das primeiras explicações que ouvimos, foi de que o nome derivava de Ka Polana, que significa o lugar do régulo Polana, hoje integrado na cidade de Maputo. Mas tudo indicando que o uso da capulana veio do norte para o sul, não parece plausível que o nome que fi cou na língua tenha tido origem no sul.
O autor do Dicionário Português-Changane, Bento Sitói, também não conhece a origem da palavra mas nota que ela não se usa em nenhum outro país africano de língua portuguesa onde é simplesmente “pano”. Usa-se porém no Brasil, tendo como sinónimo canga, a palavra suaíli que referi atrás. E assim a origem da palavra capulana continua um enigma.


AS ORIGENS DA CAPULANA
Na África oriental onde se fala suaíli, diz-se que este modo de vestir surgiu em meados do século XIX, quando as mulheres começaram a comprar lenços (em suaíli diz-se leso) de tecido de algodão estampado e colorido, trazido pelos mercadores portugueses do Oriente para Mombaça. Em vez de comprar um a um, mandavam cortar seis quadrados de uma vez, dividiam este pano ao meio e coziam o lado mais comprido fazendo uma “capulana” de 3x2 lenços.
Depois era só envolver o corpo, amarrar com mais ou menos estilo e a moda impunha-se à medida que cada vez mais mulheres faziam o mesmo.
Claro que os comerciantes não tardaram em encomendar aos fabricantes, na Índia ou noutros lugares da Ásia, não apenas “lenços” mas panos com a largura e o comprimento que as mulheres pretendiam. O estampado das “capulanas” era inspirado no sari indiano e no sarong indonésio, com os motivos maiores no centro e uma barra a toda a volta. Nos nossos dias os motivos são cada vez mais ao gosto africano, procurando os nossos diligentes comerciantes asiáticos ir ao encontro dos gostos e preferências das suas clientes.

Há uma coisa que distingue a capulana que se usa em Moçambique das que vêm doutros países mais a norte: aqui não se usam as “legendas” impressas que caracterizam as capulanas do Malawi, Quénia ou Tanzânia e raramente se vêem retratos de dirigentes políticos ou religiosos.

CAPULANAS FALAM
Guardadas nos baús, as capulanas são o símbolo da riqueza que uma mulher possui. Foram-lhe oferecidas pelo homem que as cortejou, o marido que as amou, o filho quando regressou das minas do Transvaal, o genro que lhe quer a filha. A dona não as usa, guarda-as, entesoura-as. Só uma ocasião muito especial as fará sair à luz do dia. Mas podem ser oferecidas como presente, à filha, à futura nora, à neta no seu casamento. E quando a dona morrer elas passarão como herança para as descendentes suficientemente afortunadas para serem contempladas com elas.
Mas a avó, em dia de boa disposição, pode chamar a neta para lhe mostrar as capulanas guardadas e falar-lhe do passado. A capulana, aqui, é documento histórico. Acontecimentos passados, contemporâneos da chegada de uma nova capulana às lojas dos “baniane” (comerciante asiático), dão o nome a essa capulana. Pode ser a prisão de Gungunhana o Imperador de Gaza. Ou a praga de gafanhotos que se abateu sobre o sul de Moçambique em 1934.
Talvez evoque uma grande epidemia que vitimou a região, ou a visita dum dirigente político depois da Independência. Cada capulana “fala” desse acontecimento social ou histórico. A avó certamente não tem toda a história passada no seu baú, mas tem capulanas bastantes para relembrar à neta coisas antigas de que elas são os “documentos”.
O processo de dar nome à capulana é parte da sua comercialização. Uma nova peça de capulana chega à loja e o comerciante apressa-se a apresentar o novo padrão às primeiras clientes. Elas estão em geral num pequeno grupo: mãe, filhas e noras, amigas ou vizinhas. E a troca de comentários em que o comerciante participa, acaba no batismo da capulana. Mais tarde, outras
clientes aparecem a pedir a capulana que as vizinhas lhe mostraram e já a pedem pelo nome.
~
Note-se que nem sempre a capulana se refere a um acontecimento histórico ou de âmbito social à escala nacional. Às vezes recorda apenas qualquer coisa passada numa pequena comunidade, numa aldeia ou num bairro citadino. Pode ser apenas uma intriga ou conflito entre mulheres rivais como uma capulana célebre que se chamou em ronga “Xivite Xa Leta”, o
ódio de Leta. O nome recorda uma briga entre duas mulheres porque uma
roubou o marido à outra. Leta, óbviamente, foi a vítima com quem as outras
se solidarizaram…

A CAPULANA NO LUTO OU NA MAGIA
Na cerimónia do enterro do marido, a viúva usa uma capulana sobre a cabeça e o rosto para “cobrir o choro”. Há mesmo capulanas de motivos a branco e preto para serem usadas em sinal de luto. Mas, segundo o pintor Malangatana Valente, que conversou connosco sobre o uso da capulana no Sul de Moçambique, as mulheres da família, quando se preparam para a cerimónia do funeral do ente querido, vão à loja comprar capulanas novas e todas se vestem de igual.

Há uma capulana especial, específica mesmo, que só os curandeiros ou adivinhos usam. Uma pessoa comum não se atreve a usá-la pois seria considerado uma falta de respeito, uma atitude impensável. A capulana das cerimónias mágicas tem apenas três cores – branco, vermelho e preto – e um padrão característico. O mais típico é um grande sol vermelho com
cercadura de triângos pretos, como motivo central, repetido em tamanho pequeno na
barra. Esta capulana, usada por uma mulher com um penteado especial de madeixas envolvidas numa argila especial e rara, que dão ao cabelo uma cor castanho-avermelhada, identificam imediatamente essa mulher como pessoa de estatuto e sabedoria especial: uma curandeira que também lê o passado e prevê o futuro.
Diz Malangatana que estas três cores estão associadas à magia. A pequena cubata redonda do feiticeiro ou adivinho, quando ele está lá dentro recebendo os que o procuram, pode ser decorada com uma faixa de tecido de algodão branco, vermelho ou preto, envolvendo pelo lado de fora o perímetro da casa. As árvores sagradas, à sombra das quais se fazem cerimónias ligadas ao culto dos antepassados e dirigidas pelos mais velhos, são assinaladas com um laço desse tecido, geralmente vermelho. Há algumas décadas, percorrendo caminhos interiores entre povoações, ainda era habitual ver essas faixas atadas com um nó simples a um dos ramos mais baixos.

As capulanas em apenas duas ou três cores, por exemplo azul escuro como cor de fundo, com motivos pequenos e delicados em branco, estiveram muito em voga nos anos 60 e estão a regressar. Quando estas capulanas são ligadas duas a duas, com um bordado aberto ou renda,
no meio, chamam-se mucumi. É só usada pelas mulheres mais velhas,como por exemplo a mãe da noiva no dia do pedido de casamento. Ou usada como coberta nupcial da esteira, segundo
algumas das nossas informadoras.

Enfim, sem desmerecer a graça e o estilo com que as moçambicanas do sul de Moçambique sabem amarrar a capulana à cintura, é preciso ir ao norte, a Nampula, Nacala, Pemba ou Ilha de Moçambique para ver a arte e a fantasia do traje com base na capulana.
As mulheres, aqui, usam várias capulanas sobrepostas e lenços ou outras capulanas na cabeça, artisticamente armados em toucado, com cores e padrões perfeitamente combinados. Nas cidades costeiras e na Ilha, brincos e colares de filigrana de prata, arte dos joalheiros locais, são complemento que empresta luxo e opulência às capulanas de algodão, estampadas ou tecidas, que as mulheres só tiram da arca em dia de festa."
Texto extraído do livro Capulanas
& Lenços, publicado pela Missanga

sábado, 10 de abril de 2010

De volta a África

Preparo-me psicologicamente e emocionalmente para realizar um dos meus sonhos mais queridos, mas que na hora do: é mesmo para ser feito, me dá aquele friosinho no estômago e me faz deambular pela net em busca de informação (se possível daquela que nos conta maravilhas ;)
Sou Africana de naturalidade, mas foi por cá (Portugal) que cresci casei e eduquei os meus rapazes!
Da "minha" terra restou a nostalgia de uma infância feliz com uma família maravilhosa e muitos amigos que me mimaram... Foi tudo tão bom, que se a minha decisão de voltar se pudesse basear apenas nessa infância teria o assunto resolvido :).
Porem a realidade é hoje bem diferente, e voltar deixará de ter esse sentido... o da palavra voltar...
Vou voltar sim... ao cheiro a terra molhada, ao calor que me energiza, ás cores da terra vermelha, ás frutas tropicais maravilhosas, aos sons das musicas que por aqui também já vamos ouvindo, à praia no Natal :) ao marisco... etc.etc.etc.
Do resto não quero falar agora, vou aguardar para descrever depois. Diz-me o meu marido que só depois de chegar consigo entender.
É o que vou fazer.
Até lá embrulho-me na Capulana com cores de África que me conta histórias passadas mas que me empurra para onde eu gostaria de poder participar no futuro.